Eco-ancestralidade, literatura e infâncias

08/05/2023

Eco-ancestralidade, literatura e infâncias foi o tema do quarto e último dia da jornada Pedagógica 2023. Para iniciar a conversa, o mediador André Gravatá, que é poeta e educador, trouxe um provérbio africano escrito pelo malinês Amadou Hampâté Bá para a reflexão: “tudo fala, tudo é palavra, tudo procura nos comunicar um conhecimento”. Segundo ele, essa reflexão se faz necessária pois é esse caminho que os debates deste último dia seguirão, procurando pessoas e espaços que comunicam o conhecimento.

 

No quarto e último dia de Jornada Pedagógica 2023, os escritores Kiusam de Oliveira e Lalau e a educadora indígena Márcia Mura falaram sobre eco-ancestralidade

 

Para dialogar com a ideia, a mesa foi composta inicialmente pela escritora e pesquisadora Kiusam de Oliveira, que trouxe maneiras de entender o que é uma pedagogia eco-ancestral. Segundo ela, a ancestralidade está presente no cotidiano daqueles que não se desconectaram da natureza. “Estive em um encontro em comunidades quilombolas no interior do Piauí em que saí de lá com muitos presentes, como forma de agradecimento. As pessoas acostumaram a receber e não a dar, pois de desconectaram dos conhecimentos ancestrais”, disse ela.

A pedagogia eco-ancestral é uma linha teórica que vem para despertar os profissionais da educação a se reencontrarem com a sua humanidade e sua dignidade, afinal, a natureza não está fora da gente. (Kiusam de Oliveira, escritora)

Além disso, a autora do livro Omo-Oba (Companhia das Letrinhas) lembrou o quanto a pedagogia eco-ancestral tem uma conexão com o universo feminino e, segundo ela, olhar para os corpos de meninas pretas nas escolas é fundamental, considerando que vivemos em uma sociedade racista e sexista. “A pedagogia eco-ancestral é construída com base no conceito corpo-templo-resistência, em que as pessoas oprimidas precisam entender que seus corpos são templos sagrados”, disse ela.

 

 

Educação e literatura indígena

A educadora indígena Márcia Mura falou sobre as vivências que ela propõe para alunos em escolas de Rondônia. Segundo Márcia, é feito um trabalho com comunidades ancestrais, que hoje são chamadas de ribeirinhas, de recuperação dos corpos e da ancestralidade do povo Mura. Para isso, trabalham com as crianças e com toda a comunidade cantos, saberes e sabores. “A gente procura trabalhar tanto com a literatura indígena, quanto com as histórias que as próprias crianças contam.

As crianças são a esperança da construção de um novo mundo e é por isso que a literatura que escrevemos é ancestral. À medida que as crianças têm acesso a esses saberes, elas vão criando  novos olhares sobre si mesmo, sobre os outros e sobre tudo aquilo que a cerca. (Márcia Mura, educadora indígena)

Natureza e infância nos livros

O publicitário e escritor Lalau começou sua fala contando suas vivências na infância com um avô que o ensinou a experimentar a natureza. Segundo ele, isso influenciou diretamente no seu processo de escrita, pois entende que as crianças precisam ter esse contato. Além disso, o autor contou como abordar temas nem sempre leves com relação à natureza, como é caso do desmatamento, da extinção de animais. Ainda, o escritor relembrou a importância de ensinarmos não só sobre preservação da natureza, mas sobretudo o amor à natureza e o cuidado.

As ações de leitura montam a relação das crianças de contato com a natureza. Fica mais direto, mais orgânico, mais forte. Elas fazem também aflorar um sentimento positivo, forte de pertencimento. (Lalau, escritor)

 

 

Compartilhe:

Veja também

Voltar ao blog